Primeiras Impressões: “Ogoin e Linguini: TV Show”

“Ogoin e Linguini: TV Show” é o primeiro álbum da dupla mineira Ogoin e Linguini e surge após uma série de singles elogiados pelo público e pela crítica especializada, como no caso de “Good Times”, vencedora da categoria de “Melhor Música” no 1º Prêmio Rap Brasil, resultando em uma ampliação significativa de seu público.

Capa de “Ogoin & Linguini: TV Show”
Fotografia por Bruno Queiroz (@bruno_____queiroz) e Ilustração por João Pedro Feitosa (@anti.work)

A musicalidade que fez com que eles furassem a bolha da cena mineira os fazendo alcançar um público maior. A dupla apresenta uma característica importante: a habilidade de integrar influências e estilos de maneira harmoniosa.

Sua expressividade criativa, abundante tanto nas faixas quanto no aspecto audiovisual, permite a fusão envolvente do Disco, Soul e Jazz dos anos 80 com vertentes contemporâneas da música negra, como Drill, Rap e R&B, sobre bases eletrônicas. 

Em TV Show pudemos apreciar os vocais de Ogoin, as rimas de Linguini e as participações sensacionais de Juyè, Mayí, Abbot e Maui. A noite belorizontina aqui ganha um colorido especial, com nuances dançantes, melódicas e às vezes agressivas.

Nós tivemos a oportunidade de ouvir o álbum em primeira mão antes do lançamento e pontuamos as nossas primeiras impressões sobre TV Show.

Flagra!

A proposta de “TV Show”

Escrito por

Paulo Neto

Em “Ogoin e Linguini: TV Show”, a dupla abraça a proposta de nos imergir em um seriado de TV que se desenrola por meio de uma narrativa ao longo das faixas, nas quais as imagens ganham vida em nossa mente.

“Ogoin e Linguini é a dupla nova na cidade que veio pra te surpreender

Você vai gostar de ver

Com esses dois, a pista ferve, a vibe envolve

O romantismo chega a transcender 

Trilha de Abertura (part. Carla Sceno)

A faixa inicial, que serve como abertura deste “seriado musical”, surpreende imediatamente, provocando curiosidade e fascínio desde o início, nos fazendo pensar: “Bem, comprei a ideia, agora mostrem o que têm”.

Além de uma abertura envolvente, uma série televisiva deve conquistar imediatamente seu público no “episódio Piloto”, garantindo que os espectadores se interessem em acompanhar toda a série e o desenrolar do enredo.

Neste contexto, somos conquistados pelo tema da motivação, no qual os protagonistas demonstram uma determinação inabalável em alcançar seu objetivo que é se firmar na cena da música nacional. Essa conexão estabelecida nos leva a torcer por eles, ansiosos para testemunhar até onde podem chegar. 

“(Dessa vez) 

Não vou deixar fugir

(Vai ser minha vez)

Eu sei, sei bem que vai

(Dessa vez) 

Não vou deixar fugir

(Sei talvez)

Antes do sol surgir”

Piloto (Dessa vez)

Este episódio faz uma referência notável ao último capítulo da série “Todo Mundo Odeia o Chris”, no qual toca a música “Livin’ On a Prayer” do Bon Jovi, cantarolada por nossa queridos personagens Chris, Drew, Tonya e Rochelle. A canção, com sua letra também voltada para a motivação e esperança, espelha a tensão do episódio, onde aguardamos ansiosos para descobrir se Chris passou no supletivo e o que aguarda seu futuro. 

Dessa forma, nesse primeiro episódio, podemos vislumbrar um exemplo de como Ogoin e Linguini, além de protagonistas, desempenharam os papéis de roteiristas, diretores e produtores deste projeto, referenciando seriados marcantes que fizeram muito sucesso nos anos 2000 e que crescemos assistindo, como As Visões da Raven”, “Um Maluco no Pedaço” e “Todo Mundo Odeia o Chris”, nos mergulhando em nostalgia.

Assim como um programa de TV, o álbum traz duas faixas de “intervalos comerciais” que são divertidas de ouvir na primeira vez, pois elas fazem uma pausa na narrativa e trazem piadas internas, juntamente com o anúncio de produtos e outras atrações existentes no universo de TV Show, a exemplo do programa do ruadois, outro grupo musical de BH(antes de você se perguntar quem são).

O mais interessante é que apesar desses comerciais serem criativos, engraçados e contribuírem para fortalecer o conceito do álbum, eles também são muito extensos, e isso cria um desconforto, quebrando o ritmo além do necessário e fazendo propositalmente com que surja a vontade de pular logo para voltar diretamente para o que realmente importa: o incrível show televisivo de Ogoin e Linguini, até porque existem episódios imperdíveis após os intervalos, como por exemplo “Nossa Noite” e “Bad Times”.

A história da dupla mineira também nos traz rimas descontraídas, que trazem um pouco do espírito de ambos no âmbito pessoal:

“Vocês inventaram o drill? (hahaha)

Eu inventei o moonwalk

Talk, talk, talk, enquanto eu taco, taco, taco

(Foda-se!)

Cês ficam pra trás, nós ficamo na frente

(Lá ele!)”

Brisa Nova pt. II

Ogoin e Linguini: os novos “Dudley Boyz”

Escrito por

João Augusto

O álbum “Ogoin e Linguini TV Show” explora as possíveis sonoridades abordadas pelo duo durante sua curta carreira, com influências da disco e beats que combinam dezenas de elementos de músicas atuais com influências dos anos 2000, criando uma atmosfera synthwave nostálgica sem parecer datada, conversando com as novas sonoridades, como o drill, e, ao mesmo tempo, elaborando uma interpretação única, autoral e brasileira. Ao dar play, acredite em nós, você não vai ouvir um type beat.

“Juntando o bem, o bom

O jazz, o soul

O swing, o flow

Essa mistura que fez o vulcão entrar em erupção”

Sideral

Os artistas escolhem um caminho diferente, convidando o ouvinte a ver o TV Show para acompanhar essa nova aventura dos novos Dudley Boyz. Ao adotar o nome de uma dupla de WWE que conquistou 23 títulos, o duo se apresenta para o combate trazendo elementos da luta livre para o álbum. A escolha do nome é também uma afirmação de que o duo está no páreo para jogar os adversários em uma mesa ao estilo 3D.

Os elementos que remetem ao WWE, como “Ogoin de um lado e Linguini do outro” e o sino, dão o toque de Ogoin ao álbum, com suas vozes e interpretações fujam da lógica do comum. E, quando falamos das vozes, chegamos a uma das partes que mais tornam o álbum único: as performances de ambos são muito fortes, com diferentes apresentações e entonações, além de flows que se tornam a melodia do projeto.

O álbum explora a sonoridade das noites de Belo Horizonte, com festas como Beagrime, Baile Room, Muvuka e Mistura, que são festas que exploram diferentes sonoridades que abordam diversas influências sonoras, com Linguini sendo DJ.

A faixa de abertura, “Quando Tudo Começou (DJ Linguini) (ft. Juye)”, começa com a frase “solta aquela DJ Linguini”, que introduz a trama da série. A criatividade do duo é um elemento notável do álbum. Você não vai se sentir ouvindo a mesma música da semana passada com uma leve alteração de verso.

Eles são artistas que, juntos, criam de várias formas os enredos e narrativas que têm um forte apelo visual nas músicas do álbum. Neste enredo, percebemos que o Show merece estar na TV. A direção criativa é um dos destaques do disco, com uma continuidade natural que não deixa o álbum cansar. Aproveite para dançar e se divertir com esse espetáculo musical. Harmonia é a palavra que define esse álbum. Tudo combina perfeitamente, criando uma atmosfera dançante e envolvente. Com uma bebida nas mãos, você vai se sentir como se estivesse vivendo as aventuras do Duo.

Vale a pena ouvir “Ogoin e Linguini: TV Show”?

Escrito por

Michel Chermont

Para quem busca uma musicalidade diferente do trap comercial dominante, “Ogoin e Linguini: TV Show” é uma escolha excepcional. As rimas despojadas e criativas – e inusitadas em alguns momentos – trazem uma diversidade de flows, beats dançantes e envolventes, que não deixam o disco monótono, tornando a audição bem divertida.

Ogoin e Linguini não têm a pretensão de trazer uma lírica carregada de multissilábicas ou de frases instagramáveis para hitar nas redes. O trunfo de seu álbum está na harmonia entre voz, produção e o enredo trazido por elas, que fala sobre os amigos, as histórias que viveram, as pretensões de futuro e também sobre a sua própria área, nos inserindo de forma viciante na epopéia cotidiana da dupla mineira, como se nós mesmos pudéssemos ser personagens desse programa de TV.

Como em qualquer série ou álbum, “TV Show” também faz algumas escolhas criativas que podem passar dos limites e comete alguns deslizes. O álbum contém algumas faixas que servem apenas para alongar o enredo, o que acaba sendo cansativo e quebra a imersão do ouvinte. No entanto, a narrativa permanece notavelmente rica e envolvente na maior parte do disco, apresentando uma mistura de faixas contagiantes, empolgantes, emocionantes e sensíveis, com um elenco sensacional que oferece performances excelentes e cenários memoráveis.

A dupla mineira é um respiro de alívio dentro de um cenário musical cada vez mais plastificado. A criatividade e a diversidade trazida por eles é algo que a cena nacional estava precisando e, por isso, são facilmente donos de um dos melhores álbum de 2023.

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