2ZDinizz mostra o lado sentimental da malandragem em Patrono

Quem mora em Niterói já sabia há alguns anos que aquele Dinizz do Card Principal iria estourar. Já para os novos seguidores, é muito marcante quando um artista entrega um trabalho que te deixa completamente surpreso. Aqui na Flagra, temos os dois, o que gera reações diferentes quando ouvimos Patrono de 2ZDinizz.

Para o fã mais antigo, o projeto é a prova da maturidade do artista e do zelo que tem pela sua obra, ao “segurar” por tanto tempo seu álbum de estreia, como quem parecia ter certeza que, em algum momento, receberia um apoio (como Dinizz recebeu da HHR) para lançar o projeto com a grandeza e qualidade que ele demandava. Dinizz conseguiu superar aquela ansiedade para lançar logo seu primeiro projeto, que seria esperada de um jovem, e garantiu que Patrono recebesse todo o cuidado necessário.

Para os ouvintes recentes, o artista carioca surpreende com rimas carregadas de sentimento que trazem uma perspectiva, digamos, realista para a malandragem. Todo conceito em volta da figura do patrono faz com que o ouvinte entenda e participe da sua luta interna com a ausência de uma figura paterna, ocupada aqui pelo próprio patrono. 

A produção do disco e dos audiovisuais é muito bem feita, mas isso já é algo que esperamos de uma gravadora como HHR, que é comandada pelo L7, um dos artistas de rap mais bem sucedidos da atualidade. No entanto, a produção não ofusca o trabalho de 2Z, que tem as letras muito bem escritas e um conceito muito bem amarrado como principal característica deste disco.

Os interlúdios, uma conversa de bar com a figura do patrono, dão coesão ao disco e elevam cada faixa subsequente. “Poder”, “O Amor”, “Confesso” e “Fim” são trechos de um papo colocado que divide o disco justamente em 4 seções. 

A primeira seção apresenta o MC, que se destaca em fazer associações com expressões populares e referências. A faixa de abertura, “Quem Disse Que o Boombap Morreu?” talvez seja a primeira faixa que de fato levanta a ideia da morte do boombap e entrega uma música digna a dar uma resposta justa a pergunta.

“Menó queria ser atacante e hoje domina áreas, esquinas

Ele entrou pra vida, não corre pelas pontas, só dá tapa em grama fina

Quis levar o 9 na costa e hoje leva a 9 na cinta”

Em seguida, após “Poder”, o conceito do malandro ganha ainda mais força. Enquanto na primeira parte 2Z rimava se divertindo, na segunda parte as reflexões são mais profundas. O carioca não só rima de uma perspectiva boêmia, mas também traz as consequências dela.

“O sucesso chega e a inveja vem de ronda

Dinheiro é só mais um detalhe nessa conta

Lealdade é o que importa nessa nessa porra

Traição tu financia, confiança não se compra”

Como um bon vivant, a vida amorosa do malandro aparece após “O Amor”. A partir dali, vem uma série de faixas românticas, que vão da mais sentimental, em “Erro Favorito”, até a mais dançante, no dueto com Mauí em “Bandido não, Malandro”.

“A virtude de malandro é paciência (Calma)

A virtude de bandido é inteligência (Aulas)

Chega mais perto e me conta sua vivência

Gostei do teu perfume, mas quero mesmo conhecer a sua essência”

O melhor trecho do disco chega após o diálogo em “Confesso”, a terceira parte, onde o patrono fala do seu fardo e da importância dessa posição. É interessante ver o paralelo de 2Z com a figura paterna, ou a ausência dela, na faixa “Coisas Que Não Aprendi Contigo”, que traz um lado sentimental tocante ligado ao amor pela sua mãe e ao perdão para seu pai. 

Aprendi que o amor é única competição

Que é mais importante ser o último do que ser o primeiro

Um dia eu subo e nós troca uma ideia

“Se Eu Pudesse” finaliza essa parte e já encaminha o fim com uma ótima participação do L7, que funciona em faixas sentimentais como essa e chega para completar as mensagens de 2Z. 

O quarto e último trecho do disco, iniciado por “Fim”, também mostra que o malandro está se encaminhando para se tornar o novo patrono. Nada mais justo que a faixa “Ficar Rico Esse Ano” demonstre toda a ambição de Dinizz.

“Eu levo a vida no sapato, que é fundamento da rua

Quem é chefe não grita, quem manda não executa”

Embora Patrono tenha sua melhor forma quando ouvido na ordem, as faixas também funcionam individualmente. A mística que envolve a temática do bom malandro também facilita a entrega de letras diretas e divertidas que, mesmo assim, não deixam de passar uma boa mensagem.

Vale a pena conferir Patrono?

Todo álbum de estreia funciona invariavelmente como uma apresentação daquele novo artista para o público, contando toda a sua história de vida até aquele momento. 2Z também seguiu essa cartilha, mas se destaca por ter conquistado o que poucos artistas conseguem em uma estreia: construir um disco coeso, com faixas memoráveis que estabelecem bem sua forma de rimar, mas, principalmente, amarrado em um conceito que vai além do clichê “esse sou eu”. 

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