Historicamente, a união heteroafetiva se constroi como uma convenção social com forte influência católica e patriarcal, a partir da qual é categoricamente estabelecida a estrutura das relações e o papel do homem e da mulher na sociedade.
Desde o mito da criação, onde Adão e Eva são protagonistas de uma história cuja culpa e pecado recai sobre as decisões da mulher, a narrativa que se fortaleceu através das religiões abraâmicas, sobretudo com a colonização cristã, colaborou para a perpetuação do imaginário coletivo de que a figura masculina é moralmente e eticamente superior a figura feminina. E neste contexto de micropoder, o corpo da mulher se torna um lugar a ser controlado e vigiado.
Apesar de vermos, com o passar do tempo, o impacto das revoluções e conquistas políticas que aconteceram e seguem acontecendo na nossa humanidade, é comum nos depararmos com notícias que contam sobre mulheres violentadas fisicamente, psicologicamente e patrimonialmente entre outros tipos de violência em sua maioria cometida por homens. Geralmente, quando estes perdem o domínio sobre a vítima.
“Você Parece com Vergonha“
Quando AJULIACOSTA alerta a amiga “bota camisinha nesse mano que você conheceu, o que ele fez com a ex dele vai ser B.O. seu”, podemos notar uma constante comportamental do homem, que pode ser analisada e percebida a partir do seu histórico em outras relações. Muitas de nós, somos incentivadas a competir ou a não confiar em outras mulheres. No entanto, é a partir da força deste vínculo que muitos padrões são transformados.
Já nos versos “Parou com o trampo, parece que cê perdeu o brilho. Fala minha parceira, o que que foi que aconteceu contigo? Mas não vai falar, você parece com vergonha”, a cantora nos mostra que a dependência emocional faz com que mulheres potentes percam a própria identidade e a autoestima. Muitas começam a depender financeiramente do parceiro, se isolam das relações familiares e cortam os laços de amizade. Perdem o prazer em viver sua plenitude e de ser protagonista da própria vida para suprir as necessidades emocionais do outro.
É muito comum mulheres mais velhas, quando em conversa com mulheres mais jovens sobre acontecimentos dentro do casamento ou união afetiva cis-heterossexual, falarem como consolo “homem é assim mesmo”. E nessa normalização de comportamentos que se tornam tóxicos para ambos, perde-se a oportunidade de reflexão e de mudança.
“Eu também concordo que esse mano tá doente
Mas o que cê não entende é que a cura não é sua xota”.
Nenhuma relação deve fazer com que você se sinta menor, incapaz ou inadequada. Seja profissional, afetiva-sexual ou familiar. Estar com pessoas que nos potencializam e incentivam é fundamental para que construamos uma percepção positiva sobre nós mesmos e consigamos nos desenvolver como ser humano e em todas as áreas de nossas vidas. O autoconhecimento é uma ferramenta fundamental para nos fazer reconhecer de imediato o que e quem merece a nossa presença.
Eu acho que é isso. Eu tenho visto o que as pessoas têm falado sobre a faixa, sabe? Porque pra cada pessoa bate de uma forma. E eu acho que esse refrão pra além dela realmente se prevenir contra óbvio, uma gravidez indesejada ou ou para além disso né doenças, enfim, ela se proteger disso de ter qualquer vínculo com ele. Sabe? “O que ele fez com a ex dele, vai ser B.O seu” é realmente isso que eu vejo quando a mulher se relaciona com o cara, mano. Ela tá com um cara que tem um histórico zoado, ela é a mais penalizada na situação. Tá ligado? Ela fica como se ela estivesse errando com a mina também, entende? E mesmo que de forma inconsciente, se ela sabe o que a mina passou, ela também está errando com a mina. Embora, ela não seja a autora disso, sabe. A minha questão é que muitas vezes ela se prejudica mais do que o cara, sabe?
pontua a rapper AJULIACOSTA.