O Hip-Hop como ferramenta de política pública e educação sobre o sistema prisional

Com 7 episódios de estreia semanal previsto para iniciar dia 13 de novembro, Dexter anuncia podcast “Direito de Sonhar” 

O rap é um dos cinco pilares fundamentais da cultura Hip Hop. Carrega em sua essência o compromisso de dar voz a quem é invisibilizado, expondo a realidade vivida nas favelas e periferias através da música. Sigla para a expressão em inglês “Rhythm And Poetry”, Ritmo E Poesia, o RAP tem a missão de conscientizar politicamente os oprimidos e marginalizados, se tornando um veículo para denúncias de problemas sociais como a violência policial, o racismo, a desigualdade e a falta de oportunidades.  

No Brasil, o movimento ganhou força nos anos 90, quando artistas e grupos como Racionais MC’s, DMN, Thaíde & DJ Hum, Sistema Negro e Dexter, começaram a ter relevância nas ruas e no cenário da música. Os artistas trouxeram à tona a perspectiva de pobres, pretos e favelados sobre a forma tendenciosa como a sociedade tece as redes de sociabilidade, determinando quais são os corpos passíveis de rigidez e punição, os dos pretos e pobres, e os passíveis de absolvição e permissividade, os brancos e com capital simbólico e material.

Cria da favela do Calux, em São Bernardo do Campo (Grande SP) e com uma trajetória marcante, Dexter é um dos nomes essenciais na história do rap nacional. Apesar de sua relação com a música ter começado quando ainda era criança, o seu ofício como rapper iniciou nos anos 90 e se consolidou após ter sido condenado a 13 anos de prisão pelo artigo 157 do Código Penal. Na ocasião, o jovem entendeu que naquele momento seria uma alternativa mais fácil para viabilizar financeiramente a gravação do seu primeiro álbum em estúdio. 

Dentro do presídio, Dexter conheceu o Projeto Talentos Aprisionados e a partir dele, teve a oportunidade de mostrar o seu trabalho com as músicas “Saudades Mil” e “Oitavo Anjo”. Assim, surge o grupo 509E, que durou 3 anos, batizado com os números e letra que identificavam a cela onde viviam Dexter e o outro integrante. Já conhecido pela continuidade do seu trabalho mesmo em restrição de liberdade, Dexter conseguiu viabilizar o primeiro CD da dupla, intitulado Provérbios 13.

Hoje, com 34 anos de carreira, o rapper anuncia uma nova fase na qual se tornará apresentador do podcast “Direito de Sonhar”. Idealizado pela roteirista Debora Gobitta, pela advogada criminalista Marina Lima e POD360, com direção executiva de Marcos Chehab e Tiago Bianco, o projeto acredita no poder da palavra para dar visibilidade àqueles que são invisíveis para o sistema social, sobretudo os que um dia estiveram em privação de liberdade e passam pela fase de ressocialização.

Através de 7 (sete) episódios que serão disponibilizados um por semana, Dexter lerá cartas escritas por/para pessoas em privação de liberdade e receberá algumas pessoas que encontrou ao longo da sua vida, propiciando reflexões sobre a realidade de quem é impactado pelas falhas do sistema punitivo. 

Intitulado “Amizade”, o primeiro episódio está com estreia programada para o dia 13 de novembro. Nele, Dexter revive memórias através da carta de uma amiga que inspirou a famosa música “Saudades Mil”  ao lado de dois aliados importantes em sua trajetória: os juízes Jayme Garcia dos Santos Júnior e Iberê de Castro Dias. O Jayme foi responsável por apoiar sua carreira na música, autorizando saídas do cárcere para que pudesse fazer shows e gravar faixas; e Iberê é parceiro na criação do premiado projeto “Trampo Justo”, uma iniciativa que promove autonomia para adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Numa sociedade estruturada apenas para lucrar, seja com a educação, com o encarceramento em massa ou com a saúde, onde as pessoas são apenas números, a arte e a cultura seguem sendo ferramentas fundamentais de educação e transformação da realidade. Sobretudo, pelo potencial empático de olhar nos olhos e enxergar, antes de tudo, seres humanos, e pela capacidade de expandir os horizontes de jovens e crianças que vivem em um contexto social que impossibilita sonhar e ter diferentes perspectivas de vida.

Os episódios ficarão disponíveis nas plataformas de áudio e música, e o vídeos serão disponibilizados no canal do YouTube do Dexter.

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