Baco fala sobre ‘Esú’

“Deus só tem forças se a gente acreditar nele, e a gente só tem força se acreditarmos em si mesmo. Então, nós somos deuses.”

A tão aguardada estreia de Baco, o MC nordestino que abalou as estruturas do rap nacional tirando o foco do eixo SP-RJ, chegou em 2017. Com capa e letras abusadas, fortemente inspiradas pelo trabalho do fotógrafo e escultor Mario Cravo NetoEsú traz toda irreverência de Diogo. Para saber mais, trocamos uma ideia com o cantor.

Veja abaixo a entrevista na íntegra com Baco

Por que chamar o álbum de estreia de Esú?

Porque é o nome de Exú na língua matriz. Vem todo o conceito da questão da divindade e da humanidade duelando no mesmo ser.

O que você pode dizer sobre o álbum de forma geral?

O álbum é um indivíduo em uma transição eterna. Ele passa por diversos conflitos. Sentimentos, no caso. Ele passa pelo sentimento de onipotência ao da depressão, que são dois opostos. Ele vai da auto-afirmação à auto-confiança, numa trilha até se achar. O disco é mais sobre o quão conturbada é a vida. O quanto em algum momento você está no alto, no outro você está no baixo e como você tem que aprender a viver nesses dois instantes. Todos os beats são de Nansy. Participação só tem o KL Jay. O conceito é bem isso. O conceito é essa questão do tipo, meio que… Uma frase que sintetiza a capa do CD: “Deus só tem forças se a gente acreditar nele, e a gente só tem força se acreditarmos em si mesmo. Então, nós somos deuses.”

Quem fez e qual a ideia da capa?

Eu tirei vendo o livro de Mário Cravo Neto, que tem uma fotografia muito doida. Aí eu fiz a releitura dessa fotografia com o diagrama. Quem fez a fotografia foi David Campbel. A Usina ajudou na finalização e o letrado foi do Gabriel Sicuro.

A produção incorpora o uso de sample? Quem são os produtores envolvidos? Você poderia revelar alguns dos samples utilizados nas produções? Que outros artistas tocam nas produções?

O beat da “Intro” é do Scooby e o restante dos beats é do Nansy, e tem uma faixa bônus que vai sair depois do disco que é produzida por ATTOXXA, um maluco daqui de Salvador. Os samples eu prefiro não revelar, pelo fato de que eu acho que essa é a grande onda. A maioria dos samples são todos brasileiros, então é bom pra nêgo começar a procurar e ouvir algumas das minhas referências.

Qual a expectativa para o lançamento deste primeiro disco? O que você busca alcançar com ele?

Eu não sei dizer bem o que procuro alcançar com esse disco. Eu penso mais em me consolidar no cenário brasileiro de fato. Quando falo cenário, falo cenário musical, não só do rap. Acho que esse disco foi mais uma prova pra mim do que pro público. É mais uma conquista pessoal, um bagulho que eu tava precisando fazer. Só dele [o disco] ter sido produzido já é um bagulho que basta pra mim. O que ele alcançar, eu vou ficar muito grato, claro, mas acho que vem como bônus.

Quais as influências, em termos de artistas, dentro do próprio rap, nacional e internacional, e outros gêneros neste trabalho?

Nesse trabalho, referência no rap nacional, procurei não buscar tanto, nem no internacional. Eu tentei fazer um bagulho que soasse diferente, que as pessoas ainda não tivessem ouvido nada parecido. Eu tive muita influência de música brasileira. Gosto muito de pensar no processo criativo do Tom Zé, por exemplo, que pensa fora da caixinha; que sabe o que tá acontecendo na música, mas procura sempre fazer um bagulho diferente. Então meu processo tá sendo meio que esse: ver o que tá acontecendo e seguir outra reta completamente diferente.

Percebemos pelo single “En Tu Mira” que existem diversas inspirações para as letras e o trabalho apresentado por você. Quais outras influências além da música que podemos esperar neste álbum?

Tem a influência fotográfica, também; e a influência diretíssima de Jorge Amado. Fizeram esse CD, deram a vibe desse CD, a energia desse CD. E as fotografias de Mário Cravo Neto, também, que inspiraram muito. Teve letra que só escrevi porque vi as fotografias.

Qual a faixa que você mais gostou de produzir ou que tem um carinho especial neste álbum? Ou se tivesse que escolher uma música para representar dentre as que fazem parte do disco, qual seria?

As que mais gostei de produzir foram “A Pele Que Habito” e “Capitães de Areia”, porque tiveram participações de guitarristas que sou muito fã: Fred Menezes e Gabriel Brandão. O Fred com guitarra baiana e o Grow [Gabriel] com guitarra normal; “A Pele Que Habito” também teve participação de Gabriel Brandão, e foi um bagulho muito doido fazer laboratório com os caras. Pegando o instrumental e solando de primeira, sem nunca ter escutado… Isso é música na sua forma pura. Então foi muito doido… E a música que tenho mais carinho é “Esú”, porque ela é a síntese do disco inteiro. É uma música que eu tenho muito amor por ela.

Tem alguma faixa que você gostaria que se tornasse clipe (caso ainda não tenha sido gravado)? Por quê? Tem alguma ideia de como gostaria que fosse o vídeo?

Todas as faixas vão se tornar clipe. Tô em uma parceria com o Base 071, que são os malucos que fizeram “En Tu Mira”. Os caras me ajudaram em todo processo do CD. Agradeço aos caras, porque sem eles o CD não sairia. A gente quer fazer um marco; fazer um filme, uma história, pras pessoas entenderem o contexto todo do CD. E aí é um bagulho que acredito que esse filme que a gente vai fazer é um bagulho que ninguém nunca viu.

Ficou alguém de fora que você gostaria que estivesse no álbum?

Não ficou ninguém de fora que eu gostaria de botar pelo seguinte fato: Esú ainda vai ter uma segunda parte, só que é só com participações e aí eu gostaria de chamar as pessoas que eu tenho mais proximidade. Mais proximidade e mais afinidade musical, então acho que essa segunda parte do CD vai ser um bagulho também absurdo e nela [na sequência] terei espaço pra chamar as pessoas que eu gostaria de ver versos nos meus sons.

Qual ou quais linhas são suas favoritas em Esú? Ou se não houver uma favorita, qual ou quais você gostaria de destacar? Se possível, explique estas linhas.

Impossível decidir uma linha favorita pra destacar, porque eu quero destacar tudo. Cada linha que eu fiz foi um sentimento diferente; cada música é um… eu fiz com a intenção de passar um sentimento diferente; ela foi feita em todos os ambientes para passar um sentimento diferente. Então não tem como eu escolher qual desses sentimentos me agrada mais ou qual dessas linhas me agrada mais.

“Sulicídio” completou 1 ano de lançamento dia 29 de Agosto e são constantes as referências a esta música em outras letras suas, como em “Vida Real” (Bahia-cangaço/Lutei por meu povo/Se eles fecharem a porta, eu abro de novo). Qual a importância desta faixa para a sua carreira? Podemos esperar mais referências à faixa neste disco ou você está partindo para outra fase?

“Sulicídio”, das minhas músicas, é a que menos gosto, sendo bem franco. Por causa da minha escrita. Eu tive que usar uma escrita fraca pra chamar atenção. Mas eu tenho um amor muito grande por “Sulicídio” pelo fato de ser a faixa que me apresentou ao rap nacional e é uma faixa histórica, uma faixa que fez história. Eu posso dizer que fiz história graças a essa faixa.

Que outros artistas do Norte e Nordeste de rap você gostaria de indicar para os fãs que escutam você? E da cena como um todo, quem você recomenda?

Eu indico muito Beirando Teto. Pra mim é um dos melhores letristas do rap nacional. Indico Contenção 33, também; Estilo SoltoNova Era, o próprio Vandal. Tem muita gente, não tem como ficar falando. Tem uns maluco de Pernambuco: Don RSchneider… Tem muita gente.

Como tem sido a recepção dos fãs de rap fora do nordeste?

Eu sou sempre muito bem tratado fora daqui de Salvador. Às vezes até melhor tratado fora do que dentro. Eu tenho afinidade com vários artistas de fora e o carinho do público é um bagulho assim imensurável, não tem como explicar. Um bagulho que nem eu consigo entender por que as pessoas gostam tanto de mim. É muito foda. É um bagulho que eu não imaginaria que seria assim.

Deixe um recado para os fãs.

O recado que eu mando pros fãs é só que eu espero que meu CD, de fato, melhore a autoestima de cada um que ouvir; das pessoas que gostam de mim, das pessoas que gostam… Eu espero que a obra vá além disso. Espero que cada músico se sinta contemplado com essa obra e que sua autoestima melhore depois disso.

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