Norte Side Festival 2020 e as reflexões sobre a cena paraense

Norte Side Festival e as reflexões sobre a cena paraense

No dia 08 de Fevereiro, o “Bar do Castanheira” sediou o primeiro festival do ano voltado para o rap que reuniu os nomes da nova geração da cena paraense. Um evento que busca fortalecer o cenário, que vai ficar marcado na história do rap PA, e que a Genius Brasil esteve presente.



A 1ª edição do Norte Side Festival, em Belém, reuniu os novos nomes da cena do rap paraense e foi comandada pelo rapper Moraes MV, conhecido das batalhas da capital, assim como Daniel ADR, representante do estado no Duelo Nacional de MC’s em 2014, somavam a lista de artistas na line-up que contava com 9 artistas principais. As participações e as DJ’s, totalizavam 14 artistas, alguns com uma trajetória mais longa, como o Moraes, ADR, Xico Doido, Cachalote e Bruna BG; e outros em ascensão como o coletivo Road Baixo, Drin, Anna Suav, Michel-Z e Pelut. É provável que quem não é do Norte não conheça nenhum desses nomes, e alguns anos atrás em “Sulicídio”, Diomedes questionava se já tinham ouvido falar dos “bruxos lendários do Norte”. A resposta ainda continua a mesma, a qualidade continua se elevando e o Norte Side foi a chance perfeita para isso.
Pelut fez a galera pular ao som do trap de “Não Preso”. A energia de Drin foi a que se mais destacou, que contagiava uma parte público inicialmente contido no início, mas que ia cantando as músicas junto com o rapper, que não fez a sua apresentação sozinho e declarou que aquele tinha sido o “melhor show da sua vida”. A vibe energética se tornou mais calma ao som do R&B de Michel Zumbi e das músicas de ADR, que cantou as músicas do seu recente EP “Luminescente” com influências do estilo Southern Trap. Mesmo com a falta de Cachalote, o festival seguiu firme, tendo seu ponto alto na apresentação ao vivo da faixa “Amazônia Vive #3”, aos versos de Daniel que diziam que “nunca calariam a nossa voz”; ao questionamento de Moraes: “Amazônia vive aos olhos de quem?/Amazônia é livre aos olhos de quem?”; Xico mandando respeitar o Norte, “terra de caboclo”, denunciando o contraste do “verde amazônico” e o “vermelho da perifa”; terminando com Bruna BG, marajoara, defendendo a “terra sagrada” amazônia. Um atestado da reafirmação do rap como protesto em um contexto de descuido à Amazônia em que a nossa resistência se faz ainda mais necessária.

Daniel ADR, Moraes MV e Bruna BG (da direita à esquerda) cantando “Amazônia Vive #3”

A essência do festival era essa: resistência. Resistência essa que já faz parte da cultura hip-hop, mas que toma ares maiores no Norte por uma série de motivos. Nós percebemos isso pelo local, por ser um evento “0800” e o fato de que os artistas não receberam cachê para estarem ali. Público e artistas estavam pelo mesmo objetivo: o fortalecimento do hip-hop nortista. Diversos imprevistos ocorreram durante o evento: a falta de artistas como descrito acima, atraso nos shows e o som falhando algumas vezes não atrapalharam a experiência do público que aos poucos chegava para prestigiar os rappers.

Infelizmente, o evento não pôde levar sua programação até o fim por um enquadro policial que logo ordenou que o evento parasse, no meio do show de Bruna BG e Anna Suav, ao mesmo tempo que uma festa ocorria normalmente na frente do bar.
As intervenções policiais e a burocracia são pesos antigos nos eventos de rap da cidade, sendo o principal motivo do hiato da Batalha da São Brás alguns anos atrás. Mas a cena permanece firme. O Norte Side não foi o primeiro festival de rap de Belém, vários outros já deram destaque a cena local, a exemplo do Psica Festival em 2019, porém, a forma como foi feita, a energia do público e a dedicação dos artistas e organizadores em realiza-lo, fizeram dele um antro da resistência do rap nortista. Digo que se ainda não ouviu falar desses “bruxos”, ouça.
Por fim, o festival mostrou que a cena evolui a passos largos, que há um mundo ao norte e que a Amazônia vive e é livre nas mãos daqueles que lutam por ela.

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