Flagra no 2º dia da GP Week

Segundo dia do festival GP Week em São Paulo eleva a energia com performances memoráveis ​​e organização satisfatória.

Dividido entre um dia de rock e pop e outro de hip-hop e jazz, o festival GP Weep, que ocorreu nos dias 4 e 5 de novembro no Allianz Park, na zona oeste de São Paulo, conseguiu entregar um evento organizado. Apesar dos muitos pontos positivos, um aspecto que causou desconforto entre os participantes foi uma distância notável entre a pista comum e o palco principal. Além da pista premium, colocaram outra pista ainda mais na frente, o Paddock. 

Imagem de Divulgação

Essa disparidade espacial, embora não tenha comprometido totalmente a experiência, certamente influenciou a percepção do público em relação ao evento. Além disso, o festival pecou na divulgação e contou com preços nada acessíveis, o que fez o estádio ficar com áreas completamente vazias.  

Aberturas

Escrito por

Paula Paolini

A jornada musical do dia começou no início da tarde, com o sol brilhando, às 14h, recebendo a performance das gêmeas Tasha & Tracie. Se compararmos os primeiros shows com os shows mais recentes, a evolução das gêmeas fica evidente. As artes do telão ilustram a vivência das irmãs pela cidade de São Paulo, sempre exaltando os bailes funks e a cultura periférica. Para englobar elementos do hip hop, as artistas contam com dançarinas que fazem toda a diferença na energia da apresentação, além de trazerem ainda mais dos bailes paulistas aos palcos, com os guarda-chuvas pulando no ar e os famosos passinhos. 

Contudo, é perceptível que as irmãs podem explorar ainda mais todos os espaços do palco, dando mais dinâmica à apresentação. Desde uma lovesong tranquila, como “Willy”, até novos sons que estão agitando a grande São Paulo e o Brasil, como “DESCE LICOR”, tornaram o show equilibrado e muito convidativo para os fãs de rap iniciarem o dia no festival. Hits como “Tang” e “Agouro” não ficaram de fora e complementam a seleção das rappers.   

Ver Tasha & Tracie cantar no mesmo palco que o consagrado Kendrick Lamar é algo para se admirar. Inclusive, o rapper americano já referenciou as gêmeas em sua conta secundária no Instagram (@jojoruski), onde compartilhou um take do videoclipe “Diretoria”, faixa-título do projeto das artistas e assinado pelo artista visual NÏCO. 

Em sequência, seguindo o cronograma de intervalo de uma hora entre cada show, o público recebeu todo o carisma e profissionalismo de IZA ao palco. A cantora não deixa a desejar em nenhum ponto, seja em coreografia, vocais, carisma e interação com o público. Foram sequências de hits como “Dona de mim”, “Talismã” e “Pesadão” e a cantora sustenta muito bem a apresentação, sempre cativando o público. 

Foto por: Van Campos/Agnews

A carioca cantou algumas músicas do seu último trabalho lançado,o  primeiro álbum de sua carreira, “Afrodhit”, que, inclusive, ganhou o Prêmio Multishow de Música Brasileira, na categoria técnica “Capa do Ano”. Como de costume, IZA trouxe um convidado para o seu show e dessa vez, o rapper L7NNON chegou com boa energia e performou “Fiu fiu”, feat que tem com a cantora.      

No final da tarde, quando o sol já não brilhava mais e a noite gelada ia caindo sobre São Paulo, SOFFI TUKKER se preparava para entrar no palco e tocar seus hits com muita brasilidade, cores e psicodelia. Das atrações do dia, talvez a dupla era a que mais se destoava do resto, mas isso não impediu que o show fosse realizado com muito carinho ao nosso país e interações interessantes para elevar a energia do pessoal.  

Já com as luzes apagadas e apenas a iluminação vermelha vindo do grande gato, a arte visual do telão posterior, Thundercat inicia seu show com sons alucinantes de Jazz. Baixista do álbum “To Pimp a Butterfly”, um dos clássicos de Kendrick Lamar, Thundercat se apresentou antes do amigo.

Foto por: Adriano Vizoni

As técnicas do instrumentista são difíceis e muito bem executadas pelo mesmo. É, de fato, um show hipnotizante. Seu baixo de seis cordas, acompanhado por uma bateria e um teclado fazem referência à música brasileira, à japonesa e ao hip-hop americano. 

Thundercat não deixou de mostrar seu amor pelo nosso país e logo de início cantou “Overseas”, música sobre viagens ao redor do mundo, que ele disse ter escrito depois de uma viagem ao Brasil. Entre homenagens, piadas e cultura geek, o baixista fez um grande show, sem deixar de fora seus maiores sucessos como “Funny Thing”, “Them Changes” e “No More Lies”, parceria com Tame Impala.    

Por fim, o mais aguardado da noite, Kendrick Lamar. A espera realmente valeu a pena e o rapper entregou um show impecável, com muita energia, arte, política e homenagens. Veja os detalhes do show.

Foto por: Felipe Mascari

A atração principal do dia: Kendrick Lamar

Escrito por

Gustavo Ascencio

Kendrick Lamar retornou ao Brasil durante a segunda edição do GP Week, festival de música do Grande Prêmio de Interlagos, da Fórmula 1. O rapper foi a atração principal do segundo dia do evento, no dia 05 de novembro de 2023 e, fazendo jus a tal posto, entregou um dia marcante para todo fã de sua discografia presente naquela noite.

K-dot sobe todo de verde em um ambiente onde tal cor é sagrada e, ao seu primeiro vislumbre, o Allianz Parque vai abaixo enquanto ele avança calmamente, não há pressa. Os focos de luz, predominante dispostos em cima de sua cabeça, somado ao tecido preso em boné, jogam os detalhes do MC em penumbra ao mesmo tempo que recortam sua silhueta em uma atmosfera mística. Esse jogo de luz e escuridão, diga-se, conduz o show até o seu fim, sempre após uma performance, tudo de apaga por alguns segundos, como que para o espectador atônito ter um tempo para se recuperar e logo em seguida ser jogado novamente para uma setlist bastante equilibrada entre as melhores tracks de sua carreira.

N95, o melhor banger de Mr. Morale & The Big Steppers, abre os trabalhos. Bastou o seu primeiro drop e pronto, Kendrick tinha o seu público nas mãos em um espetáculo construído com maestria. Fãs acostumados a shows internacionais nos quais rappers abusam de playbacks e jogam a vez para a plateia durante boa parte das músicas, como se fossem mais animadores de casas noturnas, estranhariam ao presenciar o que Lamar fez naquele domingo. Microfone e voz — como manda a caderneta de um MC de ofício — foram os principais elementos de  uma performance consistente de entrega impecável. 

ELEMENT. vem logo na sequência dando boas vindas aos fãs de DAMN., que também puderam contemplar, no telão principal, as belíssimas artes do artista e pintor Henry Taylor, cujas ilustrações estiveram presentes no projeto que rendeu ao rapper o Pulitzer. Ao fundo, as cores fortes de Taylor contrastavam com o tom escuro do palco e davam ainda mais vida ao show.

Foto por: Felipe Mascari

Já é um lugar comum de apresentações ao vivo aquele momento em que o artista diz “agora, vamos voltar ao passado” para anunciar algum som de um projeto mais antigo. Isso acontece com uma breve performance, acompanhada pelo público, de A.D.H.D, single de maior sucesso de Section.80, projeto de 2011.

King Kuta já vem logo na sequência chamando junto os ouvintes de To Pimp A Butterfly principalmente em momentos como o refrão. Sabendo conduzir o seu público, Kendrick faz todos entoarem a clássica linha “We want the funk” enquanto entrega exatamente isso.

TPAB que, inclusive, ganhou um capítulo especial no evento. Kendrick, na pausa mais longa de interações com a plateia, avista alguém segurando um vinil do álbum e pede para que lhe entregasse o disco. Após perguntar o nome do felizardo, pede uma salva de palmas a Gabriel enquanto assina sua obra. Todo esse momento calha perfeitamente com algo inédito: pela primeira vez em sua carreira o MC chama ao palco Thundercat e ambos se encontram para uma belíssima homenagem. K-Dot, ainda com o To Pimp a Butterfly de Gabriel em mãos, afirma que o álbum nunca poderia ser feito sem o companheiro baixista que contribui com backing vocals e co-produziu ao menos três músicas do clássico. Definitivamente um momento belo e especial, não apenas pela amizade de ambos, mas também por ter ocorrido em terras brasileiras.

Foi de Good Kid, M.A.A.D City com toda certeza que vieram os pontos mais altos da apresentação. Faixas como Backseat Freestyle e m.A.A.d city parece que nasceram para os palcos. Somando a incrível performance de Kendrick com os pontuais efeitos de luzes e fogos não havia uma única alma parada no estádio da Barra Funda, transformando aquele estranho frio da noite de novembro em um verdadeiro caldeirão. Money Trees e Bitch, Don’t Kill My Vibe, embora menos agitadas são faixas que de valor afetivo aos fãs de GKMC, que não pararam de cantar nem por um segundo.

Quem também não pararam em momento algum durante o show foram os seis dançarinos de K-Dot. Cada um réplica de seu mestre, funcionavam como um elemento caótico durante as performances, ora com movimentos erráticos e abruptos, ora andando de skate e subindo em elementos do palco. No momento mais intrigante dessa interação, um deles traz uma câmera para transmitir o próprio show direto nos telões, Lamar vira-se a seu outro e performa individualmente a ele.

Nos momentos iniciais da inesquecível noite, Kendrick Lamar cita cada um de seus projetos pedindo para que cada fã gritasse pelo seu preferido, mesmo que praticamente todos tenham gritado por todos. Conscientemente essa parece ter sido a intenção do artista ao subir no palco do GP Week 2023. Perpassando todas as suas eras, o MC de Compton ainda termina, de forma misteriosa, com uma promessa: “E por favor acreditem, nós vamos voltar!”. Resta-nos aguardar ansiosamente.

Foto por: Felipe Mascari
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