O show de Derxan, Big Bllakk, Febre90’s, Caio Ocean e as DJ’s Mari Filippo e Akai no Circo Voador no último dia 12 é a representação de como é importante valorizar artistas que estão amadurecendo aos poucos no mercado musical. A curadoria do espaço segue se adaptando às novidades do mercado fonográfico e permitindo que artistas jovens se apresentem num lugar que todo carioca já foi ou irá ao menos uma vez na vida.
30° DE FEBRE90’S
A noite era de calor no Rio de Janeiro. Mesmo às 21h, a sensação térmica chegava aos 30°. A temperatura não foi o suficiente para conter os jovens artistas, que ansiavam pelo momento de realizar um show tão grande quanto este — a exemplo das reclamações de Derxan na rede social X pela falta de contratantes, mesmo com obras aclamadas pelo público sendo lançadas por ele e Big Bllakk.
As DJ’s Mari Filippo e Akai foram as primeiras a se apresentar, seguidas do show de abertura de Caio Ocean. Eu, infelizmente, não cheguei a tempo para o show de Caio. Mas, é claro, eu não poderia deixar de falar do jovem. Caio é mais um MC carioca que se encontrou no boombap. Seus raps bebem da fonte noventista, com a grande maioria tendo apenas uma estrofe e o uso do storytelling. Essas características lembram outros artistas: a dupla Febre90’s, composta por Pumapjl e SonoTWS.
Eu cheguei logo no início do show do Febre, correndo com a câmera em busca de um ângulo para fotografá-los. As rimas de Puma somadas aos beats de SonoTWS despertaram um conjunto de sentimentos bons em mim. Algumas músicas me fizeram apenas movimentar a cabeça e outras me tiraram completamente do chão, mesmo com os equipamentos de fotografia nas mãos.
A música “Malandro Demais Vira Bicho” foi uma das que quase fizeram com que o Circo Voador despencasse (com o perdão do trocadilho). Surpreendendo a todos, a dupla trouxe B-Boys para se apresentarem durante a performance da faixa. Foi uma experiência legal, mas não o suficiente para agitar ainda mais o público; há espaço para melhorar esse número.
Foi então que os dançarinos desceram do palco e organizaram uma roda punk, enquanto os versos “Ninguém me segura/ Hoje vai dar merda” era repetido por SonoTWS em sua CDJ. Era a pequena gota d’água que fez com que o mar de euforia transbordasse e o público presente se soltasse. Foi assim que a dupla se despediu dos cariocas e deixou tudo preparado para que Derxan e Big Bllakk finalizassem a noite com chave de ouro.
Durante o intervalo, Akai ficou responsável por ritmar a pista. A DJ mostrou todo seu repertório, que variava de Jorge Ben até o jovem MC Oruam. A parte mais especial, para mim, foi quando “Dudley Boyz”, de Ogoin e Linguini, começou a tocar de repente. Infelizmente, eu havia perdido o show que eles haviam feito na noite anterior devido a problemas pessoais, mas aquele pequeno gostinho do que seria uma apresentação dos dois me fez abrir um largo sorriso.
Derxan, Big Bllakk e a representação do underground carioca
Já no próximo show, algo interessante aconteceu: Bllakk e Derxan levaram todos os feats de seus álbuns, com exceção de Juyé, para se apresentarem no Circo Voador, além de mais alguns convidados especiais. Fatos assim são raríssimos.
MG CDD (“Mixtape Eu Mermo” e “ERREJOTACULTDRILL Vol. 2 – Esquema Novo), Putodiparis (Oi Oi, Reflexo de Bolinha), SD9 (Sirenes), Pior Versão de Mim (Oi Oi, Reflexo de Bolinha e Mixtape Eu Mermo”), LEALL (“ERREJOTACULTDRILL Vol. 2 – Esquema Novo”) e Sant (“Mixtape Eu Mermo” e “ERREJOTACULTDRILL Vol. 2 – Esquema Novo) estiveram presentes para cantarem suas participações com os artistas. O palco estava lotado de nomes que desempenharam um papel significativo na caminhada de Derxan e Big Bllakk.
Quando os fãs menos esperavam, mais um artista aparecia de surpresa para uma participação e atiçava a grande gama de jovens cariocas. Se engana quem pensa que Derxan e Bllakk não tiveram destaque individuais, pelo contrário, a dupla foi o grande destaque da noite.
O jeito descontraído de Derxan é conhecido por quem o acompanha nas redes sociais e isso se reflete no palco. Mesmo com a ansiedade, o rapper estava calmo e parecia que já havia rimado diversas vezes no Circo Voador e, principalmente, para um público tão grande como aquele. Derxan soube se conectar com os presentes, com momentos que usava rimas agressivas para animá-los, além das diversas vezes que o artista conversou e tirou fotos com fãs durante a apresentação.
Big Bllakk se deixou levar pela euforia do público. Assim como os B-Boys de Febre90’s, o rapper desceu do palco para curtir o show junto com os fãs e organizou uma grande roda punk. Algo que me agradou bastante foi como eles estavam preocupados com a experiência de todos, perguntando se estava legal, se queriam algo e, até mesmo, jogando itens do merch de “ERREJOTACULTDRILL Vol. 2 – Esquema Novo” para o público.
A tracklist do show de Derxan e Big Bllakk foi bastante variada, o que me agradou. Músicas de ambos foram cantadas, além de faixas do álbum colaborativo dos dois. Um ponto interessante a ser levantado é que ambos produzem músicas perfeitas para rodas punk e shows agressivos“Grime de Puto”, “Chumbo”, “Sirenes” e tantas outras contam com batidas agressivas que despertam no corpo a vontade de pular e se movimentar.
Se a noite começou com um calor descomunal, certamente ela terminou ainda mais quente do que havia começado. Tudo graças a cada pessoa que se fez presente naquele palco. Era visível a emoção dos artistas e a preocupação em entregar um espetáculo digno de um local como aquele. Se algum desavisado chegou no Circo Voador sem conhecer os artistas, certamente, saiu de lá não só eufórico, mas também fã e com um gostinho de quero mais. Derxan, Big Bllakk, Febre90’s e todos os outros músicos deram um ótimo exemplo de como fazer um show de Rap.
