Na última quarta-feira (20), o The Town convidou a imprensa para conhecer o novo palco Quebrada, voltado para artistas da periferia e com uma linguagem mais afirmativa, e para ouvir o novo álbum do MC Hariel, intitulado Eh Noiz Ki Tá.
Como parte de uma ação especial, Hariel espalhou bandeiras com os nomes das faixas por lugares que compõem um “mapa afetivo” de sua vida, como a Vila Aurora (onde nasceu), Brasilândia, Favela da Marcone e pontos do centro de São Paulo.
O disco conta com 15 faixas e inclui colaborações com artistas como AjuliaCosta, Rael, MC Cabelinho e KayBlack, entre outros. E a produção musical reúne nomes de destaque como DJ Murilo, LT no Beat, Nagalli, Ajaxx e DJ Perera.
Durante o evento, o artista revelou que, ao se ver muito absorvido pelas questões de dor e luta, escolheu se aproximar da leveza, celebrando sua trajetória, suas conquistas e expressando o orgulho de ser quem é e de suas origens no novo lançamento.
‘Eh Noiz Ki Ta” está disponível para o público nas plataformas de streaming desde do dia 21 de agosto.
The Town e o Palco Quebrada
O The Town é um festival de música de grande porte que transforma o Autódromo de Interlagos, em São Paulo, em uma “cidade da música”, com estruturas arquitetônicas que fazem referência a pontos característicos da cidade. A primeira edição aconteceu em 2023 e, agora, em 2025, ocorre a segunda. O evento foi criado pelos mesmos fundadores do festival Rock in Rio e, assim como o Espaço Favela deste último, o The Town inaugura, nesta edição, o Palco Quebrada.
As favelas e periferias são formas de organização social elaboradas por uma parcela da população historicamente e estrategicamente desassistida pelo Estado. A Lei de Terras de 1850, criada no Brasil ainda escravocrata e colonial, impedia que pessoas sem recursos financeiros adquirissem ou ocupassem terrenos para cultivo ou moradia. Com a abolição da escravidão, aqueles que antes eram mão de obra fundamental passaram a ser corpos marginalizados, sem capital econômico e sem inserção social. Foi nesse contexto que surgiram as favelas.
Segundo dados divulgados pelo IBGE em dezembro de 2023, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), cerca de 60% dos brasileiros vivem com até um salário mínimo por mês, cujo valor em 2025 é de R$ 1.518,00. Grande parte dessas pessoas reside em periferias e favelas, algumas sobrevivendo com menos que esse valor.
De acordo com informações disponíveis no site do festival, o The Town não possui uma política de ingresso social, oferecendo apenas duas opções de compra: inteira, no valor de R$ 975,00 por dia, e meia-entrada, a R$ 487,50 por dia. Isso corresponde, respectivamente, a 64% e 32% de um salário mínimo. Tal realidade nos leva a refletir sobre a ideia vazia de representatividade construída por um mercado que visa o consumo da classe média e alta, e não inclui, de fato, aqueles que vivem nos territórios que se propõe a representar.
Embora seja importante que o mercado crie ações para minimizar as consequências da desigualdade social, fruto de estratégias políticas e de questões históricas estruturais, é fundamental investigar quais dessas ações são efetivas e impactam diretamente a realidade dessas populações, garantindo o acesso à cultura para além de uma representação simbólica.
Por outro lado, a curadoria musical do palco, apesar de trazer grandes nomes, também pode ser interpretada como uma forma de espetacularização ou de marginalização desses indivíduos. Isso porque é composta por artistas que trazem narrativas afirmativas e/ou são oriundos desses territórios, enquanto o público, em sua maioria, não se identificará com essas histórias.
O The Town irá ocorrer este ano nos dias 6, 7, 12, 13 e 14 de Setembro e os ingressos já estão disponíveis para venda na Ticketmaster.
