Os 10 Melhores Álbuns de Rap Nacional (2010-2014)

O Rap em terras brasileiras vem crescendo em número de produções, novos artistas, investidores, eventos, etc., distribuídos cada vez mais pelo extenso território do país. Visto que essa foi uma década muito produtiva para o estilo e vislumbrando o massivo número já feito e ainda por vir, é preciso preencher uma lacuna sobre o que vem sendo relevante nesta década. Para isso, pegamos o recorte da primeira metade e fizemos a seguinte pergunta: quais os melhores discos de rap nacional desse período? Isso pode se refletir nos trabalhos seguintes, que passaram e os que ainda virão. A equipe do Genius Brasil de editores e moderadores se viu intrigada e traz aqui o que para nós merece destaque e provavelmente entrará para o hall de clássicos do gênero no futuro.

Foram 22 membros envolvidos, com 53 discos lembrados ao total. Saiba como cada membro elegeu sua lista:

Akill379Ariel PaivaDanDanChaparraL
domrafaEduardo KeneethFelipe Adão
GabrieloveHenrique MarleyIgor França
JoaoOttoKleber BrizLAHuss
LKSZZLucas WildembergMarta Barbieri
MvggxtPeixeehpellizzle
ramoshenriqueRaul M PimentelSulamerica
Thiago Leve

10º. Emicida, “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”

O que torna esse disco memorável é o seu destinatário. Emicida se dirige aqueles que nunca antes haviam ocupado posições de destaque, nunca haviam sido reconhecidos em seus trabalhos e agora podem reclamar tudo que lhes foi privado.

O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui é, desde o seu título, um chamado para a resistência. Um dos refrãos mais bonitos do rap nacional conta com a participação de Rael: “Quem costuma vir de onde eu sou, às vezes não tem motivos pra seguir. Então levanta e anda”. Por falar em participações, esse é outro grande trunfo do disco. Mc Guimê marca a presença do funk e cantoras como Pitty e Tulipa Ruiz parecem ser um prenúncio da parceria que viria a acontecer com Vanessa da Mata mais tarde, em 2015, no hit “Passarinhos”. A sambista Fabiana Cozza e a Jussara Marçal contribuem também para que o disco não seja apenas composto por batidas e rimas, mas seja uma ode à música brasileira.

Porém, se pudermos destacar duas faixas, a biográfica “Crisântemo” é uma delas, que funciona como uma descarga elétrica de emoção nos ouvintes. Outro destaque é a canção “Trepadeira” que gerou furdunço na época e que até hoje renderia uma boa discussão. Não para decidirmos se condenamos ou absolvemos Emicida, mas para pensarmos até quando o comportamento sexual das mulheres irá ser alvo de julgamentos e menosprezo.

Apesar disso, O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui é sobre representatividade e empoderamento, ainda que essas palavras não estivessem na boca-do-povo em 2013. Assim, a mensagem continua atual e a filosofia “nóiz por nóiz” do Emicida rendeu frutos recentes, como o desfile de sua grife em 2016 no São Paulo Fashion Week. Você continua sendo o único representante do seu sonho, e se isso não fizer você correr…

por Marta Barbieri

9º. SHAWLIN, “Orquestra Simbólica”

Na brincadeira do título do álbum entre “Simbólica” e “Sinfônica”, no encurtamento do pseudônimo de Shawlin para Shaw e no próprio nome “Orquestra”, Shaw já prenunciava as diferenças criativas que o disco trouxe para sua carreira.

Da crueza de “Ruas Vazias” aos instrumentais carregados de Orquestra Simbólica vimos um Shaw versátil que trouxe um disco que lançou sucessos do underground para sua época como “Coração” e “A área”.

Uma marca do disco foi a mescla de ideias, escolas e estilos. Partipações como a de Black Alien e Luiz Melodia constrastaram com produções de Papatinho e Dj Caique. De músicas profundas como as já citadas “Coração” e “Reza Forte”, com Black Alien, somos levados rapidamente à acidez e inteligência que se tornaram um marco do mc, em “Malditos Políticos” no qual ele se coloca como presidente ao tecer críticas a corrupção que comanda nosso país, como também à densidade de “Nasce o Vilão” que parecia prenunciar o que estava por vir enquanto o Vilão descarregava toda a sua frustração com a vida e sua agressividade num beat com um violino carregado de emoções.

Em mais de 20 canções bem produzidas, o carioca nos mostra porque arregimentou uma legião de fãs na cena brasileira e porque é hoje um dos símbolos de uma geração que buscou seu lugar na cena, sem perder a crítica em suas letras.

por João Vitor Félix

8. Síntese, “Sem Cortesia”

Composto por 28 faixas, divididas entre Vagando Na Babilônia e Em Busca de Canãa, Sem Cortesia surgiu em uma época onde o rap nacional atingia outros patamares, saindo vitorioso em 5 categorias no VMB daquele ano e alçando vôos pelo mainstream das terras tupiniquins. O Síntese veio com uma proposta bastante diferente do que era consumido, munidos de beats crus, mensagens fortes, profundas e uma originalidade nada comercial.

Com letras viscerais e imposições de voz de tirar o fôlego, Neto e Leo trouxeram composições que reafirmaram muitos dos temas abordados pela velha escola do rap nacional, abordando também aspectos da espiritualidade de cada um deles, com um olhar único sob a humanidade e as particularidades dos seres, influenciando toda uma geração de novos MC’s.

Indiscutivelmente, Sem Cortesia é um dos trabalhos mais marcantes da história recente do rap nacional, com faixas curtas que cospem verdades, revolta e emoções, pregando e cumprindo a missão de revolução mental, comportamental e espiritual por meio do rap, sem esquecer do que Bambaataa defendia.

por Lucas Wildemberg

7. Emicida, “Emicídio”

Provavelmente o disco do Leandro com maior diversidade de temas. Dos eventos de Hip-Hop mais antigos aos mais novos; da prostituição ao romance docíl; do racismo a superação e reconhecimento do sucesso. A segunda mixtape do rapper é uma releitura dele próprio, onde pensamentos antigos dão lugar a novos devaneios.

Dentre os diversos fatores importantes no trabalho, talvez o que chama mais atenção é produção quase perfeita do Renam Samam, extremamente rica em scratch’s, o que faz as transições de faixas imperceptíveis.

Em suma, a mixtape é a transição do velho para o novo Emicida, que até mesmo começa a dar uma abordagem mais rica a cultura africana, tema que se torna mais presente conforme novos discos do MC surgem. Aliás, você notou a sua cor e ele nem a falou.

por Thiago Leve

6. Don L, “Caro Vapor / Vida e Veneno de Don L”

5. Criolo, “Convoque Seu Buda”

4. Filipe Ret, “Vivaz”

Após o tímido lançamento do Numa Margem Distante, o rapper carioca acabou explodindo com o “relançamento” de Só Precisamos de Nós e os singles Libertários Não Morrem e Neurótico de Guerra. Na altura do lançamento, ocorrido no último mês de 2012, o Vivaz já era fênomeno.

E o decorrer do álbum só aumentou o buzz sobre ele. As músicas inéditas e, até então, desconhecidas pelo público complementaram perfeitamente os hits lançados anteriormente, atacando a mesma temática – estilo de vida, liberdade e responsabilidade – de uma forma que ninguém tinha feito e, permito-me dizer, não conseguiu fazer até hoje.

“Traio o mundo, mas não vou me trair

Derrubo quem for, mas não aceito cair

Tô de pé fluindo, até mudo eu mudo

Apesar de tudo, vou viver sorrindo”

por Ariel Paiva

3. Rodrigo Ogi, “Crônicas da Cidade Cinza”

Crônicas da Cidade Cinza (2011) tem o privilégio de estar na terceira posição da lista por uma quantidade de razões que não cabem escritas nessa anotação. Contudo, a maior delas, é possível considerar, é a originalidade musical que Ogi trouxe à cena pela primeira vez num álbum solo em 2011.

O flow cantado e a voz peculiar do rapper paulista ganhou muitos ouvidos do rap nacional com o trabalho em questão, mostrando tanto qualidade lírica com a habilidade de trabalhar com emoções quanto capacidade de construir cenários nítidos com as palavras entre bumbos e caixas.

Vou perguntar para o meu Deus
Por que será que os filhos teus
Se destroem na guerra sem fim?
Meu Deus, por que o mundo é assim?

Ogi em “Por Quê, Meu Deus?”, faixa 3 de Crônicas da Cidade Cinza (2011).

Desde a arte do álbum – que traz a influência de grafiteiro e pixador de Ogi – até o último minuto de seus 56, Crônicas da Cidade Cinza traz uma visão única dos ângulos, linhas, retas e formas – todos cinzas – da capital de São Paulo. Mereceu o lugar na lista.

por Raul Pimentel

2. Racionais MC’s, “Cores e Valores”

Doze anos após o lançamento do clássico Nada Como Um Dia Após O Outro Dia, em novembro de 2014 o Racionais MC’s trouxe à vida seu sexto álbum de estúdio, batizado de Cores & Valores.

Em um contexto em que pairavam fortes dúvidas quanto ao futuro do rap brasileiro e crescia o ceticismo do público quanto a um novo álbum de estúdio do Racionais, Cores & Valores se provou como um importante álbum no cenário do rap brasileiro desta década e reafirmou a posição de destaque do Racionais, mesmo após doze anos sem um lançamento.

Faixas como “Cores & Valores” (que é seguida por diversas mini-tracks), “Preto Zica” e “Quanto Vale O Show” mostram a evolução musical e técnica do Racionais e revelam de forma clara como o grupo conseguiu levar o rap brasileiro um passo a frente.

Finalmente, o mérito de Cores & Valores reside no fato de que nele há flashes de toda a história do Racionais e das trajetórias pessoais de seus integrantes, que passam por profundas reflexões sobre o que significa se estabelecer no seio de uma sociedade que ainda rejeita a cultura negra, violenta o corpo negro e ignora a força poética e revolucionária do rap brasileiro.

por Felipe Adão

1. Criolo, “Nó na Orelha”

Nó Na Orelha não foi só uma surpresa para os milhares de fãs que conheceram o artista depois do grande sucesso do álbum. Foi uma surpresa também para os fãs de longa data do Criolo.

Ainda Há Tempo, álbum antecessor de Nó Na Orelha, apresentava uma temática muito influenciada pelo famoso “rap de mensagem” e era um álbum em essência de rap.

Quem, em 2011, estava na expectativa pelo lançamento do novo álbum do Criolo com um pensamento que seria algo parecido com “Ainda Há Tempo” se surpreendeu, mas se surpreendeu da melhor maneira possível.

Criolo transcendeu o rap com Nó Na Orelha. Desde o afrobeat em “Bogotá”, passando pelo brasileiríssimo samba em “Mariô” e o tradicionalíssimo rap de “Sucrilhos”, até o reggae de “Samba Sambei”, Criolo e Daniel Ganjaman, produtor participante em todas as faixas do álbum, provaram que são extremamente versáteis não só no rap, mas em diversos outros gêneros.

Nó na Orelha não foi só um divisor de águas para o Criolo, foi um divisor de águas para o rap nacional. Criolo, assim como Marcelo D2 pregava há um bom tempo, mostrou que o rap não precisava ser só rap. Nenhuma surpresa pra quem em 2010 ouviu a versão de “Cálice” — clássico de Chico Buarque — do Criolo:

Me chamam Criolo e o meu berço é o rap
Mas não existe fronteira pra minha poesia

por Henrique Marley

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