Melodia & Barulho ambienta muito bem a Baixada Fluminense, trazendo elementos fundamentais para compreender a atmosfera periférica brasileira e os costumes da Baixada. Maui apresenta características que o consagraram como um artista cuidadoso e curioso nos trabalhos anteriores como Rubi (2023), sempre incorporando novidades que resultam em músicas capazes de fazer você dançar com um sorriso no rosto (de copão na mão).

É possível perceber o trabalho coletivo da equipe por trás do álbum, que, junto com Maui, realizou uma pesquisa aprofundada sobre a cultura soundsystem e sua presença ao longo da jornada do disco. O barulho e a melodia caminham sempre juntos, revelando diferentes facetas do artista e sua conexão com diversas situações, dialogando diretamente com a carreira já consolidada de experimentações entre ritmos, uma constante da biblioteca do artista.
Explorando outras sonoridades
O disco apresenta uma diversidade de estilos musicais, como pagode, funk, drill e footwork, mas sem se prender a um ritmo específico. Essa mistura reafirma a identidade musical de Maui, que imprime sua marca única ao transitar entre diferentes sonoridades.
Com 16 faixas, o álbum conta com diversas participações especiais, incluindo: Tshawtty, Cristal, Scof Savage, MASKOTE, KBrum, Bruno Kroz, Ogoin, YOÙN, Afrodite Bxd e 2zdinizz. Cada convidado traz seu estilo e personalidade, contribuindo para a construção do projeto ao lado de Maui, de maneira cuidadosa e equilibrada.
Além disso, o álbum conta com vários produtores para acompanhar a variedade de estilos: Taleko, CL FEZ O BEAT, Antconstantino, Chediak, Enigma, WIZE, Linguini, Akai, Jacquelone, DG, Dree Beatmaker, Wavybil, Adieu e Gabriel Duarte. Participações especiais também incluem LEALL, MC Luanna, Silvia de Mendonça e Renata Souza, ampliando ainda mais a riqueza cultural e musical do trabalho.
Embora Melodia & Barulho tenha muitos artistas envolvidos, todos com contribuições bastante perceptíveis ao ouvinte, isso não ofusca o artista principal. Maui desliza nos beats enquanto as colaborações adicionam personalidade, e as participações especiais trazem novos elementos e profundidade, conectando a vida cotidiana com o artista dentro da obra.
O que mais impressiona ao ouvir o álbum é como um projeto com tantas colaborações se mantém tão coeso, evidenciando o amadurecimento musical de Maui que, como artista, consegue ter uma identidade única mesmo transitando com facilidade em diferentes ritmos e gêneros.
O que chama atenção!
O disco carrega uma assinatura própria, diferente de tudo que se ouviu até agora em 2025, apresentando uma coletânea que traduz a essência da cultura soundsystem na Baixada Fluminense. Ele percorre ritmos que sempre marcaram a carreira do artista, como a melodia do pagode e o barulho do drill, estilos nos quais Maui já se destacou, mas entrega aqui um trabalho maduro e consistente, que cumpre seu propósito com excelência.

Ao longo do álbum, é possível perceber a paisagem sonora que integra a periferia, revelando diferentes realidades, conectando múltiplos ritmos e consolidando um projeto autoral. Desde a primeira até a última faixa, o ouvinte encontra detalhes novos que juntos compõem quase uma ópera da Baixada ao conectar versos e batidas de forma envolvente. O álbum oferece uma verdadeira imersão na realidade musical proposta, como se fosse um passeio por corredores de moto, refletindo a conexão entre a cultura soundsystem e as influências presentes na baixada. É uma experiência que traz elementos conhecidos, mas dentro de uma proposta inovadora, revelando um jeito único de criar música.
Vale a pena ouvir “Melodia & Barulho”?

De forma rápida, a resposta é sim. O álbum surge como um forte candidato a disco do ano, apresentando uma identidade capaz de conquistar qualquer ouvinte. Em Melodia & Barulho, é possível perceber o amadurecimento do artista, que explora diversos elementos em um conjunto original, evidenciando sua versatilidade e capacidade de criar algo inovador. Além disso, o projeto funciona como uma porta de entrada para quem ainda não conhece o artista, convidando o público para uma imersão na Baixada Fluminense, revelando um universo de Maui que explora sonoridades distintas. Este álbum é pra quem é ruim e mora longe, uma experiência completa da periferia ao centro e um dos grandes destaques de 2025.