Legado e mercado: para além do valor material do rap

Ballantines e RZA firmam parceria e abrem o diálogo sobre o valor imaterial da cultura Hip Hop.

A cultura Hip Hop é feita de adaptabilidade, coletividade e da necessidade de criar. Cada um dos cinco pilares – conhecimento, breaking, rap, grafite, dj e mc – carrega a sua essência individual, o que faz com que esses elementos reverberem e se conectem com aquilo que é indivisível em cada pessoa. 

Quando toda essa conversa rola, meu olhar acaba se voltando  para os dois pilares que se tornaram meu trajeto: o rap e o conhecimento. 

Eu nasci no finalzinho do século passado, literalmente dias antes da virada do milênio, e minha real aproximação com o rap foi um tanto tardia, somente aos 14 anos de idade. Então, muito do que aprendi não foi por vivência da cultura – o que, por um lado, não vejo como algo ruim. 

Pedir licença pra chegar, abrir essa porta aos pouquinhos e ir assimilando tudo na mesma velocidade me ajuda a ter uma visão diferente de quem cresceu embebido nessa única cultura, principalmente sobre a forma como ela opera de acordo com as décadas. 

A essência dos tão referenciados anos 1990

A década de 1990 faz parte dos quatro períodos históricos sonoros que ditaram muito daquilo que consumimos atualmente. Esses anos são, respectivamente: 1970, 1980, 1990 e 2000.

Deixando todo o clima saudosista de lado, os anos 1990 carregam uma fórmula quase operacional em que o ímpeto do “faça você mesmo” era visceral. 

De mãos dadas com a necessidade de sobreviver, jovens à margem da sociedade entram em estúdios improvisados para retomar a narrativa criativa e existencial que foi pré-estabelecida por uma sociedade preconceituosa.

Entre trancos e barrancos, grandes nomes emergem e criam história, como é o caso do famoso grupo da costa leste dos Estados Unidos, Wu-Tang Clan. 

Inclusive, sabia que em 2023, além de celebrarmos o 50º aniversário da cultura Hip Hop, também iremos comemorar o 30º aniversário do “Enter the 36 Chambers”, álbum de estreia do grupo?

Uma das vozes de uma geração

Trazendo o foco para RZA, membro do grupo, notamos que sua existência é daquelas que poderia ter impressa e gravada “Hip Hop” em letras garrafais. Afinal, o cineasta, campeão de xadrez, produtor e ator subverte todas as expectativas e as narrativas sociais pré-estabelecidas. 

RZA carrega a essência da mudança e da adaptabilidade. Não é atoa que seu lema nos anos 90 era “permaneça fiel a sua essência”  segue sendo trazido, mesmo que indiretamente,  por inúmeros artistas, como Travis Scott, Little Simz, Rihanna, Rashid, Lil Uzi Vert e Tyler, The Creator.

Sua potência e ensinamentos ultrapassam barreiras, ao ponto de encontrarem elementos que também dialogam com essa cultura, como é o caso do Uísque (aqui eu abro um parênteses porque prefiro a escrita em portugues mesmo).

Confira matéria: https://flagrarap.com.br/o-elo-entre-o-uisque-e-o-lifestyle-no-hip-hop/ 

Parceria de milhões

Finalmente, o Hip Hop está tendo seu valor mercadológico reconhecido, mas esse papo já é muito conversado por aqueles que vivem da cultura – stylists, jornalistas, produtores, artistas, fotógrafos e afins. 

Não é atoa que em 2014, matérias como a “Bling Days: Como o Hip-Hop engoliu a moda” já apontavam como a cultural streetwear voltada para esse público alvo movimentava cerca de 192 bilhões de dólares.  

E, para além do valor mercadológico, existe o valor imaterial dessa cultura e isso é exprimido de diversas formas, como é o caso da nova parceria entre Ballentine’s, famosa marca de Whisky, e RZA, que transmite uma mensagem poderosa para aqueles que seguem tentando diminuir toda essa cultura. 

Assim como o “Do It Yourself” de George Ballantine’s e “Stay True” de RZA, o rap também é feito de muitos “faça você mesmo” e “permaneça fiel a sua essência”. O que escancara a porta que foi aberta a muito tempo sobre como o Hip-Hop muda vidas, de como esse movimento, e essa cultura, são referência de coletividade, de criatividade e prosperidade para inúmeros jovens marginalizados. 

“Na Ballantine ‘s, acreditamos que todos são únicos, originais e dignos de celebração. RZA é conhecido por fazer as coisas do seu jeito, uma mentalidade que reflete o espírito da marca, inspirado no nosso pioneiro fundador George Ballantine.”

Mathieu Deslandes, diretor global de Marketing da marca na Chivas Brothers

O rap e o conhecimento movem essa parceria. Assim como a minha aproximação com a cultural, a junção desses dois grandes nomes ocorre com base no respeito de trajetória e entendimento dessas potências. 

As visões também fazem parte de uma perspectiva diferente. Afinal, estamos falando de uma fabricante de uísque, bebida que sempre esteve presente nas letras e visuais do rap, mas que agora recebe uma nova faceta nesse relacionamento.

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