Primeiras Impressões: EP “S2”

O grupo mineiro Ruadois lançou o projeto “S2”, contrariando as expectativas de ser um projeto de garage, como o Proibido Estacionar Vol. 1 (2021), ou de drum and bass, como o Proibido Estacionar Vol. 2 (2023). Sendo uma banda que tem projetos com alto BPM e muita energia, que agora cantam sobre as relações mais importantes da nossa vida, sobre o amor e o que ele gera em nós. 

Capa do EP “S2”
(Fotografia por Menê /@______mene & Design por Vitória Melissa /vmeliss_)

Ouvimos o EP com antecedência e também estivemos presentes durante a audição do dia 15/03 no espaço Quente em BH, e assim pudemos estabelecer nossas primeiras impressões sobre “S2”. Flagra!

“Quinta-feira, 22h”: As Memórias da Primeira Audição

ESCRITO POR

Pedro Fumiga

Fomos convidados para realizar uma escuta prévia do EP S2, projeto que dá início a uma nova fase do Ruadois, agora com uma nova formação.

A (nova) formação do ruadois: Akila, Well e Mirral (Foto: Pedro Vinicius / @pedroabstract)

E, antes de mais nada, gostaria de ressaltar que esse foi o meu primeiro contato com as músicas do grupo mineiro, que infelizmente ainda não tinham passado pelos meus fones goianos. Porém, também acho interessante a visão de que, a partir da escuta deste trabalho, tive minhas primeiras impressões não só das músicas, mas também do grupo, e o fiz sem comparações aos antigos projetos – o que pode ser válido se eles buscam ampliar seu público e chegar em novas pessoas.

Não posso deixar de dizer que, logo após a audição, fiz meu trabalho de casa e ouvi todos seus projetos, incluindo sua apresentação para o Prêmio Rap Brasil. Enfim, bora lá! 

O EP, que conta com 6 faixas e uma temática que aborda sentimentos e relacionamentos, inicia nos dizendo que sem o amor não seríamos nada, envolvendo-nos em um beat calmo e eletrônico. A partir daí, podemos imaginar um pouco do que foi construído pelo grupo para esse projeto: refrões melódicos cativantes, uma abertura para entender a visão de cada membro sobre o amor, porém sem muita ousadia em suas rimas e batidas. Em ‘‘PRA CIMA’’, primeira faixa do EP, o  refrão e o último verso se destacam, o que acaba se encaixando melhor com a tranquilidade da música, que conta com vocais fortes e calmos. 

Metendo marcha na escuta, a segunda faixa onde Liah rouba a cena e se sua voz e flow se destacam tanto no refrão e em seu verso que acaba desfocando o grupo mineiro. Além disso, o primeiro sentimento que tive foi de estar escutando uma track bônus do álbum ‘‘OGOIN & LINGUINI: TV SHOW’’, o que me faz buscar ainda mais semelhanças durante o restante da audição. 

Por mais que as batidas tenham meenvolvido durante praticamente todo o EP, a partir da terceira faixa, há uma certa falta de emoção. As letras e os vocais não me fizeram querer estar apaixonado e me imaginar assim em cada linha. Particularmente, sou um amante das lovesongs e adoro ouvir pessoas cantando sobre saudade, planos e o amor, mas, nesse caso, senti falta de originalidade. Em contrapartida, ressalto que o grupo acertou muito na construção dos refrões, que grudaram desde o início na minha cabeça. 

Mais uma vez, na quarta faixa, a audição me trouxe para perto do álbum de Ogoin e Linguini, que entendo ter sido uma grande referência para o S2. A música é gostosa, envolvente como as outras, mas me faz sentir falta de mais. 

Ogoin e Linguini durante a audição de “S2” em BH (Foto: Pedro Vinicius / @pedroabstract)

Caminhando para a parte final do EP, observamos uma mudança em relação ao que foi construído nos beats das primeiras faixas. Começando com uma batida de funk e renovando a estética já apresentada, consegui entender o que estava faltando. O projeto, que se manteve consistente nas letras, nos refrões e no BPM, também se manteve sem algo gritante ou letras rasgadas, o que me indicava uma falta da presença do ‘‘antigo’’ Ruadois, mesmo que eu não os conhecesse antes. 

A sexta e última faixa, ‘‘FALA PRA MIM’’, pareceu não se encaixar na proposta que vinha sendo trabalhada no EP até então. Uma batida que começa que com um BOOM BAP, fugindo de algo tão melódico, é utilizada para falar do que entendi como um término. Terminar o projeto com essa mudança talvez tenha sido interessante para trazer uma sensação da quebra dos laços e de todas as relações que ganharam vida aqui, o que faria bastante sentido. Espero que essa tenha sido a intenção.

(Foto: Pedro Vinicius / @pedroabstract)

No geral, existem músicas e projetos que de cara já tomam meu fôlego e me colocam aquela careta que mostra que só veio pedrada. Mas, em outros momentos, preciso deixar certas faixas rodando algumas vezes no fone para que comecem a fazer sentido pra mim.

O que me ocorreu ao ouvir o EP S2 foi exatamente esse segundo cenário. Na primeira audição, senti falta de alguns aspectos que me fizeram não ficar tão animado com o projeto, no entanto, ao escutá-lo novamente, não só as batidas me fizeram dançar, mas também passei a reparar em outros flows que de início não chamaram minha atenção, e isso me fez gostar EP como um todo. Posteriormente, ao ir atrás dos antigos trabalhos do grupo, pude entender que o momento atual para o Ruadois é totalmente diferente do que eles já viveram e que essa nova proposta também carrega muito do que está sendo produzido na cena de Belo Horizonte.

A audição ao vivo do EP

ESCRITO POR

João Augusto

Acredito que, por se tratar de um projeto novo, isso traz algumas novas comparações entre o que existia anteriormente e o que está por vir,especialmente sobre como será o novo show do Ruadois. Teremos um mosh? Teremos um momento fofo? Acredito que neste texto eu possa ajudar a responder a essas questões.

(Foto: Pedro Vinicius / @pedroabstract)

Estivemos presentes na audição do EP no último dia 15 e, pela forma como a discotecagem foi conduzida pela DJ Akila, membro da banda, pudemos perceber que os shows serão mais diferentes do que o habitual, com novos elementos e uma nova cadência.

A audição respondeu à minha principal dúvida, que é a de como seria a recepção do público, e, mesmo sendo um público selecionado pelo grupo, a resposta deles a algo tão fora do conhecido para os padrões do Rua Dois me chama atenção.

O projeto agora acompanha como o grupo lida com o amor e os demais sentimentos e sensações sobre as relações amorosas. O público conseguiu se conectar e, principalmente, a mesma energia que é a marca registrada do Rua Dois estava lá. Vimos que o público comprou a ideia, e principalmente se permitiu conhecer a nova face do Rua Dois. 

Em s2, o grupo experimenta sair de sua zona de conforto, como os primeiros projetos que os consolidaram como uma banda que traz diversas referências sonoras, em cada projeto explorando um gênero e o deixando com a sua cara. Agora, o Ruadois foi até as lovesongs, em beats de trap e boombap, e transitou pela carreira dos intérpretes Well e Mirral One, e pelas referências da DJ Akila, com foco em estilos conhecidos pelo público geral, que agora também tem uma versão do Ruadois.

Nessa season two, pudemos ver que o grupo se abriu a mais feats e isso os fez jogar em casa. Acredito que, em cada música desse projeto, o convite do grupo para os convidados, beatmakers e intérpretes fez com que elas tivessem identidade própria dentro do projeto. O Ruadois os chamou e adaptou a identidade do Ruadois para cada projeto dentro de cada música, assim, na minha opinião, cada música traz pontos fortes de quem vem de fora e o Ruadois os adapta para espelhar a alta energia do grupo.

DJ Akila na audição de S2 (Foto: Pedro Vinicius / @pedroabstract)

No ao vivo, as músicas estavam mais vivas e vibrantes pela forma como a DJ Akila as apresentou, o que caracteriza a assinatura do grupo ao projeto. Ouvir ao vivo muda a percepção de cada música e mostra que, mesmo sendo um projeto com tantas mãos envolvidas, ainda sim é um projeto do Ruadois. 

Este projeto é um convite para o que o grupo virá a apresentar no futuro, não sendo sempre algo relacionado à música eletrônica e ao alto BPM, mesmo que estes elementos estejam presentes nas rimas e na forma de cantar. 

(Foto: Pedro Vinicius / @pedroabstract)
Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Previous Article

Flagra Essa Faixa: “Lalá”, o sexo oral em outra perspectiva no rap

Next Article

Flagra Essa Faixa: "Braille", o renascimento de Rico Dalasam

Related Posts