“Confundindo os Sábios” traz Emicida em uma produção do Coyote, dois nomes que assim como Rashid, se tornaram referências e permanecem relevantes no rap nacional.
Essa entrega diferente da usual cria uma certa expectativa no ouvinte, como uma confusão com as informações que chegam de forma inesperada. Essa característica também aparece na composição que usa inúmeras contradições para elucidar informações que embora sejam “óbvias” nem sempre são ditas. É o caso das linhas que fecham a faixa, que fazem referência ao crime, a violência policial e evidentemente ao movimento Hip Hop.
Do caralho que a gente voltou a se encontrar e que a gente, porra, pode compartilhar várias coisas, várias ideias, várias referências. Esse convívio volta a resultar em música, sabe? E agora a gente volta e faz a Confundindo Sábios que foi da mesma maneira que a gente começou, uma batida lentona, seca, dando uma ideia de mil grau. – Emicida para o minidoc DES-Confundindo
A Faixa ainda conta com scratchs do DJ Mr Brown de um sample de “Vida Loka parte 1” do Racionais MC’s. A linha “Desacreditar, nem pensar” é uma resposta ao refrão, que tem um tom pessimista com relação à forma como sistema encarcera a sua mente – “Querem tornar sua mente Alcatraz Ou FEBEM”
“Rota” carrega um duplo sentido, quando se refere às Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (ROTA), uma das forças policiais mais violentas do nosso país. Rota aqui também se refere ao caminho que o Hip Hop, a cultura e/ou conhecimento pode levar para os seus adeptos, dando ênfase para o distanciamento de uma vida violenta
Essa ideia se reforça com a comparação de duas figuras famosas em nível nacional:
Fernandinho Beira Mar: conhecido por ser um dos maiores narcotraficantes da América Latina, liderança passiva do Comando Vermelho. Sua busca e apreensão foi nacionalmente noticiada no final da década dos anos 90 e início dos anos 2000.
Drauzio Varella: Clínico geral e oncologista, seu trabalho em campo é tão impressionante quanto sua dedicação em disseminar conhecimentos sobre saúde para a população nas mais diversas mídias.
No entanto, a linha brinca com a ideia de que a gente planta aquilo que colhe, ou seja, criamos o problema (Fernandinho) e esperamos a cura (Dráuzio).
A linha possui mais uma outra camada: Dráuzio Varella tem uma extensa luta pela prevenção ao vírus HIV no Carandiru, maior presídio da América Latina, durante a década de 1990. No contexto dessa linha, não soa poético?