Bivolt fala sobre seu novo single “Olha Pra Mim” e seu novo projeto “MixTape Solo B”

“O homem destrói tudo por onde passa, inclusive ele mesmo.”

Oriunda da Batalha do Santa Cruz, responsável por revelar diversos artistas do rap paulistano, a MC Bárbara Bivolt dá o pontapé inicial para o seu novo projeto, a MixTape Lado B, com o single “Olha Pra Mim”. Conversamos com ela sobre seu novo disco, o primeiro single lançado, perspectivas e muito mais sobre sua carreira e o rap nacional.


Veja abaixo a entrevista na íntegra com a Bivolt


No primeiro verso você diz: “O mundo é grande, grande coisa, o coração também é/E te garanto foi tão lindo quanto o mundo já foi/E te garanto tá tão podre quanto esse mundo tá/Coincidência pois também foi o homem que estragou”. Você poderia explicar por que começar a faixa com uma mensagem tão profunda?

Eu nasci pura, como essa terra já foi um dia, sem pecados, sem maldade, sem sofrimento, sem contaminação. Só que o dia a dia de quem nasceu onde eu nasci e viveu como eu vivi, infelizmente blinda a mente e o coração. Acho que essa mensagem nem é tão profunda assim, é mais um papo retão, como a música toda é. O homem destrói tudo por onde passa, inclusive ele mesmo.

O clipe é gravado nas ruas do centro de São Paulo. Por que a escolha dessa localidade para o clipe?

Bom, eu escolhi a dedo o Terminal Bandeira como locação pro clipe. Quando eu morava nas ruas de SP, tinha um estacionamento da GCM bem ali, e um dos pontos onde a maloca que eu vivia se agrupava pra dormir. (Maloca é o nome que a gente dá, as pequenas famílias que se formam nas ruas). Vivi coisas insanas por ali, na terceira parte da música inclusive falo bastante sobre essa fase, no verso: “Longe do crack e a faca debaixo do travesseiro/ Não me assemelho, eu ainda amo o que vejo no espelho”.

Foi uma situação que realmente aconteceu comigo em uma noite de chuva pesada, onde infelizmente era impossível dormir, todo mundo resolveu fumar crack naquela bagaça, e em instantes um cara usuário que era de uma outra maloca, apareceu por lá com uma faca, e foi pra cima de uma companheira travesti que vivia com a gente e a feriu.


Veja a anotação completa clicando aqui!


O que podemos esperar do seu novo trabalho MixTape Lado B, que deve chegar em Novembro? Qual a ideia por trás? O que podemos esperar em termos de produção e participações?

Esse disco é bem brisado. Usei muitas técnicas diferentes em cada música, cada melodia uma parada única. As letras são bem cotidianas e introspectivas, mas com um sentido que se aplicaria a um milhão de personalidades diferentes.

Escolhi fazer em formato mixtape, por dois motivos, um pelo fato de que sempre sonhei fazer uma mixtape, todos os meus discos favoritos são em formato mixtape. O outro motivo é que simplesmente a cultura Hip-Hop é cheia de detalhes, e detalhes, é claro, são muito importantes para o contexto histórico de qualquer movimento, acho importante, eu como representante séria da cultura, passar adiante esses detalhes, para que eles não se percam no esquecimento. Depois de uma era de Raffa Moreira e afins onde sai uma mixtape por semana, mas nenhuma é mixtape, me senti na obrigação de mostrar na prática o que realmente é uma mixtape, mixada por um DJ faixa a faixa, tudo certinho. Uma mixtape sem DJ, meu coração num guenta, longe de mim querer cagar regra, mas na minha opinião, dentro do nosso movimento um MC sem DJ é algo bem fail!

O disco tem poucas e maravilhosas participações, vou falar pouco sobre as participações pra deixar o clima de suspense no ar.
A maioria das faixas foram produzidas pelo Vibox, tem também produção do NetoTHWillião e Pensante.

Qual a expectativa para este lançamento? Como você espera que os fãs irão receber este novo projeto?

A expectativa é que todos amem, agarrem com força, reflitam e possam usufruir de cada palavrinha do disco.
Mas quem sabe, né? Tô ansiosa com esse lançamento e sinceramente não tenho a mínima noção de como vão receber isso. Tá tudo muito raiz no disco, e ao que tudo indica, vai ser incrível! Eu, como amante de música, acho que tá tudo lindo, mas como fui eu que fiz, num vale. (Risos)

Como você vê as mulheres na cena do rap atualmente? Você considera que houve progresso com relação ao machismo nas letras e nos bastidores?

Elas sempre existiram, sempre vão existir. Rap de mulher é igual qualquer outro rap. Hoje vejo que as mulheres estão botando mais a cara, se unindo mais, falando mais, e o principal: passando menos pano pra o que não as agradam.
A representatividade aumentou, e obviamente junto com isso, o número de mulheres que ganharam espaço para mostrar seu trabalho também. Mas ainda é muito difícil ter mulher em line up, ou até mesmo nesses “cyphers”, é sempre mais do mesmo, um monte de homem e só.

Eu que vim das batalhas fico muito feliz com o aumento das minas no movimento, quando comecei a batalhar, eu era a única mina no meio de um batalhão de mano. Hoje quando eu colo na batalha, até rola aquela lagriminha do lado do olho… Esses dias mesmo, em uma batalha com 16 MCs, 8 eram minas e 8 eram manos. Sem contar as batalhas femininas, onde as MCs chegam em um nível monstruoso de qualidade, e sem nenhum homenzinho pra falar groselha. (Risos)

Agora sinceramente, espero que os manos passem a receber melhor as monas também, porque homofobia ainda é utilizada como ataque em batalha, e sabe o que é pior? Funciona! Eu até acho que teve progresso, eu aprendi, também já fui reprodutora de machismo, mas a nossa cara é instruir, eu mesma passei a visão pra vários manos, que mudaram de atitude e postura no tratamento com mulheres.

De todos os lançamentos diários que acompanho, sempre tem uma ramelada dos manos… mas fazer o quê, né? Uma pá de ser humano morrendo nas reservas indígenas da Amazônia, um presidente acabando com o país, polícia matando todos os dias e em todos os lugares e os cara ainda preferem falar da buceta, chamar as minas de vadia e aquele mesmo blá-blá-blá, haxixe, “eu sou foda”, “alibabá” de sempre.

Por fim, deixe um recado para os fãs.

Bom, eu nem sei se tenho fã rs… mas um recado para a população é: Estude! O sistema te quer burro. O governo vai criar a doença, pra depois exterminar, não caia nessa armadilha.
Conheça a verdade que a verdade liberta, e eu não tô falando de Jesus (risos). Tô falando de tudo na vida. Bora se enxergar melhor, reconhecer nossa real essência. Olhar pra si, para conseguir perceber que quem tá do lado é confuso igual você, porque é humano assim como você.


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